Na postagem em que falo como
foi assumir-me para minha mãe estava questionando se era realmente necessário
assumir-me para a família (além de estar um pouco revoltado com as atitudes que
ela estava tendo). E hoje venho apenas narrar como foi assumir-me para o meu
pai.
É interessante o
fato de que quando nos resolvemos com os nossos amigos, quanto a nossa
sexualidade, começa-se a ter uma “exigência”, que pode vir deles ou de você
mesmo, para quando você irá assumir-se para os seus pais. Além disso, mesmo não
existindo essa “exigência”, você acaba por criar planos de como e quando irá
contar para eles.
Acredito que seja
assim com todos, afinal, comigo não foi diferente. Tinha planos de contar para
minha mãe apenas quando estivesse namorando alguém ou tivesse dado o meu
primeiro beijo, mas não foi assim, pois acabei por contar BEM antes do primeiro
beijo e infinitamente antes do primeiro namoro (nem namorado eu tenho ainda!).
Assim como tinha
planos de como e quando iria contar para minha mãe também tinha planos para com
o meu pai, afinal, pretendia contar para ele apenas quando estivesse em minha
faculdade, ou seja, por volta dos meus 20 anos, mais ou menos, e, apesar disso,
foi muito antes do que isso.
Acredito que tenha
sido por volta de Julho que ele tenha “descoberto”. Durante esse período estava utilizando o Notebook dele (não me recordo do porquê), logo, meu e-mail ficava
aberto. Nisso, ele acabou lendo um dos meus e-mails trocados com o MVG, mas o
único problema é que eu estava com o meu pseudônimo na troca de e-mail (CR) e
isso dificultava dele saber se era realmente eu quem estava expressando-se
naquela mensagem.
No fim das contas
ele acabou perguntando se o “CR” era eu, e como não teria coragem de negar
minhas “existências”, acabei falando: “Sim, sou eu”. Acabou por chamar a mãe
para conversar e iniciou-se uma discussão não muito legal entre a gente.
Recordar-se desse
dia não é algo que aprecio, afinal, não tive uma reação legal com eles (Sou
muito estressado, logo, a discussão foi na base dos gritos e quase que
violência por minha parte). E não é
a primeira vez que me explodo com o pai.
No dia seguinte
decidimos conversar (Eu e meu pai) como duas pessoas decentes (ou uma né? Por
que eu estava feito bixo naquele dia). Como argumentos meu pai utilizava os mais
famosos: de que isso era errado, que era pecado, e eu, de alguma forma, tinha de organizar alguns
de meus argumentos para demonstrar que as coisas não funcionavam assim. Depois
de uma longa discussão mandei um argumento que mexeu muito com as estruturas
ideológicas dele:
“As pessoas são feitas por ideologias e
vivemos em um mundo que está diverso de ideologias. Quem garante que só essa
que você apresenta é a correta?”
Depois disso
decidimos parar nossa conversa e seguir nossos rumos.
Analisando a
situação daquele dia só vim perceber que o que preocupava ele não era o fato de
ser errado ou pecado, ou de que era o medo de eu mudar, afinal, isso estava
em segundo plano, mas sim a reação das pessoas que estão ao nosso redor. Coisas
do tipo: “O que as pessoas vão comentar sobre mim e minha família? Temos um
filho gay!”.
Apesar desse tipo
de pensamento me revoltar um pouco (no qual é o mesmo pensamento de minha mãe),
havia me esquecido de uma das principais coisas que se deve ter para com
aqueles que sabem sua sexualidade:
“É só uma questão de tempo, adaptação e
convivência. Cada um tem o seu.”
No fim de tudo meu
pai teve a mesma reação que minha mãe, mas a diferença era que ele havia
expressado isso mais nitidamente do que ela. Assim como minha mãe sofreu,
chorou e decidiu esquecer essa história, meu pai também sofreu, chorou e
decidiu esquecer.
Já estou passando
pelas primeiras fases da aceitação dos pais. Assim como eles decidiram esquecer-se
desse fato eu também decidi esquecer-se dessa responsabilidade, mas e quando
minha homossexualidade começar a expressar-se mais nitidamente? Como será a
nossa reação?
Não sei...
Abraços do CR!!