“Uma última foto pessoal!”
Todos se preparam.
Escolhem ficar do lado de quem mais gostam, de quem mais possuem intimidade.
Abraçam, beijam, levantam dedinhos, e mais uma variedade de poses é feita para
essa última foto. Não estou excluído dessas facetas, afinal, faço parte desse
grupo... Corrijo: Fiz parte desse grupo.
Eu os vejo. Eu os
sinto... Eu os vi, e eu os senti. Ainda não consigo entender esse misto de
crueldade e maravilha que é A Vida e O Tempo. É uma beleza muito estranha aos
meus olhos.
Autor: Bertil Nilsson
(Renascimento da
Fênix)
O poder divino dos deuses,
a transcendência do corpo, a renascença da alma, a existência de seres míticos,
contos e estórias, e entre outras várias fantasias foram criações do ser tão único que é o homem. Uma eterna busca por algo que o fizesse, de alguma forma, "vencer" o tempo. A necessidade do homem de ganhar das suas “fraquezas”
sempre existiu, e não é hoje que irá acabar.
A imortalidade,
o maior anseio desse homem, é uma maldição ou uma dádiva? Relativo.
Quanto tempo duraria essa imortalidade? Quinhentos anos? Cem mil anos? Nove vezes
o tempo de existência de um corvo? A idade de uma Fênix?
Pergunto,
pois, paradoxalmente, nem mesmo uma Fênix, ser criado por esse homem, e símbolo
da imortalidade, é imortal. A ave do grandioso ciclo, ao final da sua vida,
quando teve de deixar de existir, lança aos ventos suas cinzas a fim de mostrar
de que ninguém escapa do caminho tão certo que é a morte.
Mas é
nesse mesmo negro de dor e sofrimento que nasce uma pequena faísca, um sopro de
vida, que é uma nova Fênix... Uma esperança seria? Indícios da imortalidade?
Mais um ciclo!
Quanto
tempo dura esse grandioso ciclo de morte e renascença da Fênix? Quantas vezes
uma Fênix tem de morrer e renascer para alcançar um objetivo que nem mesmo se
tem certeza, se é que existe um objetivo? Nós, humanos como somos, poderíamos
ser o ciclo por um todo ou um resultado de cada ciclo completado? A junção dos
dois? Ou seja, em uma vida, morremos só uma vez?
Não.
E essa é a única resposta que
posso lhes dar.
Quantas
vezes morrestes e renascestes durante a vida? Quantos Eu’s deixastes de
ser no percorrer do caminho? A Vida, sendo a nossa grande guia, é um grande
martelo que nos lapida com o passar do tempo, ou talvez nós nos lapidamos com o
que A Vida nos oferece. Sendo uma questão de perspectiva, é inegável o fato de que, inevitavelmente, deixamos de ser quem nós somos, ou seja, de
que O Tempo tira a nossa identidade (ou seríamos nós, seres de razão, a tirarmos a
nossa própria identidade?...) Não culpo o tempo, apenas sei, em minha condição humana, que sou mutável.
Não sou
o mesmo de dez anos atrás, e nem serei o mesmo daqui a dez anos. Ontem fui um eu,
hoje já sou um novo eu, e amanhã serei um outro. O que causa tudo isso?
Amores e amizades? Intrigas e desentendimentos? Não ignoro tais fatores por
serem sim causadores de nossa mudança, mas acredito que são nas despedidas que
está a essência dessa Fênix.
Me
perdoem, sou um Homem de fins, e não de começos. Para mim, começos são
consequências. Não nego que um novo amor e uma nova
amizade, ou seja, novos relacionamentos nos renovem. Estes, além dos infinitos e novos
problemas que persistem em existir nos nossos caminhos, são os que moldarão esse nosso novo Eu, essa nova faísca, essa nova Fênix, mas vejo que são os fins, as despedidas que são responsáveis por criar essa nova
pessoa.
Os fins são as chamas que queimam a velha Fênix.
Quando
me despeço de uma ou várias pessoas, o eu que eu era para elas deixa de existir
no momento do adeus. Nenhum outro grupo poderá reviver essa pessoa que existiu
na linha do meu tempo, e mesmo reencontrando esses antigos entes, ou
relembrando-os, apenas terei um vislumbre de quem eu já foi.
Quando encontras, depois de muito tempo, por destino ou acaso, aquele seu
amigo de infância e, depois das saudações, começam a lembrar de todos os
momentos bons e ruins que viveram juntos, ou quando simplesmente se sentas na cadeira e, por algum motivo, começas a lembrar dos momentos que já vivera, percebes que nessas e outras horas o quanto já morrestes e renascestes durante a tua vida.
Aí que está a relação íntima entre Tempo e Lembranças.
No fim, ironicamente ou não, somos culpados pela nossa própria morte. Assim como a Fênix, quem
constrói nossas piras que, logo logo, se atearão ao fogo, somos nós mesmos.
Mudar, morrer, dói. Pior ainda é que, como a Fênix, sabemos de antemão quando a hora chega, exceto às raras vezes em que não estamos preparados. Como no ritual, em meio a todo o terreno que se desmorona, tristes melodias são entoadas pelo nosso antigo ser tão desgastado.
Choramos
como se fosse a nossa última vez... Por que choramos? Não somente por doer, mas
saibam que lágrimas de Fênix curam. Curam nossas feridas, curam nosso ser.
São lágrimas que descarregam todo o peso de dor e sofrimento que o antigo eu tanto tinha depois de viver uma vida de imortalidade.
São lágrimas que descarregam todo o peso de dor e sofrimento que o antigo eu tanto tinha depois de viver uma vida de imortalidade.
Esperança,
mutabilidade, renovação e imortalidade... Tudo.
Quem nós somos?
Somos Fênix na vida
Uma
última foto? Sim, uma última foto, para que as cinzas do Eu que já fui não sejam
simplesmente levadas pelos ventos e esquecida pelo o resto de minha vida.
Vocês,
acima de tudo, existiram para mim.
Eu os vi, eu os senti. Sei quem já foram, e agradeço profundamente por terem
sido quem foram.
Sei que
minha morte é inevitável. Despedidas são inevitáveis. Renascer é inevitável. Quão
cruéis O Tempo e A Vida são! Mas que estes me deem o direito de guardar estas
minhas cinzas na minha vasta memória, que, na verdade, é uma enorme Cruz que
carrego em minhas costas.
Fraqueza
ou não, me perdoem, Tempo e Vida, mas não quero me esquecer das cinzas de um tempo
que já fora, das cinzas da minha história.
Quanto
tempo dura esse grandioso ciclo? Quantas vezes terei de morrer e renascer
nessa vida? Quanto tempo dura essa imortalidade?
Seria a idade de uma Fênix?
Abraços do CR!!