sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Dos relacionamentos que não nos advertem

    Não por maldade. É simplesmente pelo fato de que há tanto para se refletir e aprender com a vida que se torna difícil advertir sobre todas as coisas. Soma-se ao fato de que não há somente uma verdade que nos auxilie a lidar com a experiência do viver, mas sim uma dentre várias perspectivas, que a tarefa de repassar tudo sempre será incompleta.


    Logo, do que vivenciei (pois aqui escrevo apenas no passar do meu viver), vos digo: namorar algumas pessoas é descobrir o quanto essas pessoas não nos cabem. O ponto é que não sabemos disso e precisamos pagar para ver.

    Ficamos anos agarrados à esperança de que elas irão, de alguma forma, realmente compreender as nossas necessidades, de que vão parar de nos machucar com as pequenas coisas que tanto já falamos, e que vão melhorar em seus aspectos mais difíceis de lidar.

    "Uma só vez mais", "Talvez se eu tentar de uma outra maneira", "Agora que isso aconteceu tudo realmente vai se ajustar", e tantas outras justificativas criamos para permanecer ao lado de quem queremos amar. Reforço "queremos", pois amar é uma escolha deliberada e consciente (mas essa perspectiva eu deixo à mercê do vosso aprendizado com a vida).

    Diante de todas essas tentativas de fazer funcionar, e que, infelizmente, mas previsivelmente, não nos trouxeram retorno minimamente satisfatório, começamos a cair no limbo da dúvida e dessa dúvida tudo se torna alvo (e é geralmente no que mais nos falha).

    Aprendi que com a devida distância, que só o tempo proporciona, de algumas relações já finalizadas é nesse limbo da dúvida que surge a oportunidade de melhorarmos como pessoas. Nos martelamos demais dentro desses relacionamentos, e por tanto nos martelarmos ficamos completamente expostos. De fato, desconfio que só assim somos capazes de amadurecer: quando não temos mais a casca dura de algumas vagas verdades que vestimos para evitar o sofrimento de alguns traumas passados.

    A vida tem disso, sabe? Quando não é o acaso que desafia nossas estruturas, somos nós que, inexplicavelmente, nos colocamos nos caminhos que irão nos enfraquecer nos pontos onde mais precisamos.

    Mas não sabemos disso, ainda. Não temos essa perspectiva porque ainda estávamos presos naquele ciclo. Ainda não tínhamos nos descascado o suficiente para nos depararmos com as nossas próprias falhas, e só aquele relacionamento/núcleo (não pessoa, pois nunca é sobre o outro) seria capaz de fazer isso conosco.



- Carlos R.

*** Originalmente escrito em meados de Agosto e 2023. Somente publicado aqui na data que se segue da postagem.

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