Não encaixava em mim. Não sou um homem da fé, mas minha necessidade tão humana fez-me criar a própria religião. Sou resultado da miséria que aflinge a experiência da vida. Ser humano é estar em aflição.
Meu ontem sempre acreditou que a sua projeção futura seria um ser cheio de luz e passional. Que abarcaria toda a sua própria dor passada com paciência e sabedoria. A persona que veio a surgir de um anseio, de uma necessidade por acalento em toda a dificuldade e dor que o eu presente estava sentindo. O meu eu de amanhã precisava estar melhor e mais resolvido que o meu eu presente... Não só precisava, mas que também tivesse misericórdia por mim e por todas as minhas tentativas falhas e decisões imaturas.
Parcialmente correto... Tenho, sim, as qualidades que necessitava e muitas das questões que rondavam a minha vida naquela época já receberam suas devidas respostas, mas isto não isentou-me de perceber e viver novas perspectivas que colocassem. mais uma vez, em ponto crítico outros cernes que já havia estabelecido como estáveis, assim como algumas das recentes raízes que vou estabelecendo ao passar da vida. Ainda falta-me luz, e vejo que ainda me faltará.
Hoje olho para o meu passado com compreensão e empatia, mas percebo que este meu passado esqueceu-se de algo: que o caos, a dúvida e a inconstância sempre estariam presentes em sua vida. Vejo-me sendo boa parte da imagem viva que um dia ansiei, mas carrego em meu coração tantas dúvidas quanto antes.
Abraço, relembro e ofereço toda a empatia para aquele eu que, com um olhar marejado, tanto suplicava por um acalento que diminuísse um pouco a sua ânsia, que necessitava de um pouco de amor. Conduzo minha perspectiva desse meu eu passado nessa dança por vezes calma e serena, como também nas vezes menos graciosas de se observar, mas o faço buscando o conforto do amor que ainda preciso. Danço com este jovem que ainda não sabe que também preciso de ajuda. Danço com a persona que na sua inocência não percebe que este que vos fala é tão humano quanto ele.
Mas não repetirei essa mesma ingenuidade, pois hoje sei que o meu amanhã também estará olhando para o exato eu de hoje com a mesma, e constante em vida, melancolia não anunciada.
Sempre estarei precisando me resgatar.
- Carlos R.