domingo, 9 de fevereiro de 2025

A vista no fim do ciclo

Acredito que nunca será da maneira como planejamos. E quanto mais distante for o que se concretizou do que quando se imaginou, com certeza mais diferente será do que um dia parecia um sonho tão distante.

É no entanto que nem parece absurdo considerar como ter sido verdadeiramente um sonho distante. O núcleo, a semente, o coração do sonho, nos misturar dos termos, realmente se concretizou, mas os caminhos longos, as diferentes estradas vivenciadas e todas as estações repassadas foram o que tornaram o aspecto do objetivo se definir como realmente um sonho tão distante.


Estou aqui, experienciando o lugar onde um dia ansiei estar, mas nunca, em hipótese alguma, teria sido capaz de imaginar tudo o que vivenciei nesses longos anos para poder chegar nesse exato momento.

Não só isso, mas nunca poderia imaginar o que teria de enfrentar para estar aqui: eu mesmo. Lá bem atrás, começava isso de peito erguido, de olhos atentos no horizonte e velas abertas para o futuro, confiante de que superaria o que o mundo trouxesse, as tempéries dos mares e as más temperanças do destino.

Talvez realmente estivesse preparado para todos esses desafios externos que a minha mente (ainda catastrófica, por sinal) criava, mas a experiência da minha graduação nunca se revelou realmente ser sobre o que estava além de mim.


É óbvio que foi difícil. O conhecimento necessário para considerar-se formado nesse curso definitivamente não foi fácil de assimilar, mas no grande revelar das cortinas me deparei, principalmente, comigo mesmo. Debaixo dos panos não havia o mundo, mas sim um grande espelho.

O meu maior desafio foi lutar contra todas as questões internas que ainda não havia notado. Velhos hábitos que levei, carregando por anos, sem nunca achar que havia algum problema neles, mas que a vida, nas suas maneiras interessantes de derrubar nossas convicções, me revelou. Ao oferecer-me uma outra perspectiva, uma nova lente, consequentemente exigiu-me a devida atenção para o amadurecer.


A graduação, por mais que ainda teimosamente tente relativizar, definitivamente se mostrou como um evento ocasionador de mudanças, o terremoto das minhas desgastadas estruturas. Nela vivi o velho e já anteriormente conhecido longo processo de negação, raiva, barganha, depressão e superação.


Tenho ainda viva em minha memória cada uma dessas passagens. Das vezes em que me negava a olhar no espelho o que claramente estava defeituoso nos meus hábitos. Das vezes em que fugia das responsabilidades quando já era inevitável olhar. Das vezes em que me via relativizando e renegociando o que a graduação exigia de mim. Das vezes em que não conseguia sequer me levantar da cama porque já me considerava um caso perdido. De quando minei toda a minha autoestima e autoconfiança.


E quanto tempo tudo isso me custou. E quanto isso me custou.

Por alguns anos me tornei o meu maior crítico. O meu maior sabotador.


Não tenho a coroa de louros de uma bela formação que ingenuamente achava que teria lá no começo. Esse caminhar foi calejado, feio e grotesco.

Carrego comigo o contentamento de uma batalha um dia perdida. A compaixão dos derrotados. Comigo tenho somente os louros das cicatrizes que acometi e os cascalhos que colecionei dos caminhos tortos feitos no auge das crises.


Mas já não me lamento por isso há tempos. Todas as partes desse processo foram difíceis, mas devidamente respeitadas, vivenciadas. O cair do outono e a severidade do inverno sempre chegam ao seu fim, como todas as coisas.

E ainda lembro, vivamente, de quando o peito finalmente esquentou. De quando reencontrei em mim a vida. De quando tive coragem de mudar essa fórmula. De quando passei a entender que devo ser o meu maior apoio e que devo cultivar em mim a minha maior torcida. De que sou o principal responsável da minha carruagem chamada vida.


A estrada tem sim passagens difíceis e falhadas. O tempo pode e vai atrapalhar o andar da carruagem, mas foi nessa graduação que aprendi que o nosso maior inimigo pode surgir a partir de nós mesmos. Que o teste se revela do quanto conseguimos encarar nossos velhos maus hábitos, do quanto nos deixamos cair na espiral que nós mesmos criamos.

Foi nessa graduação que aprendi que o ritmo e a constância da carruagem são ditados por quem aprende e consegue segurar as rédeas. A isso que me foi deparado no espelho, e foi nesse próprio reflexo que aprendi a ser adulto.


O ciclo naturalmente se concluiu.

Posso dizer a cada um dos meus eu's passados que as coisas, de certa forma, deram sim certo.

Um certo não perfeitamente executado. Nem tão polido. Mas um certo.


Não me sinto necessariamente em um grande contentamento.

Nem me sinto em desgraça.

Mas me vejo em uma estranha sensação de paz.

Da mesma sensação de observar o nascer e o pôr do sol.

Do silêncio reconfortante dos tons alaranjados mesclados ao algodão das nuvens.


- Carlos R.


*** Originalmente escrito e postado no instagram em 23 de Dezembro de 2023. Três músicas fazem parte da publicação dividida em 3 partes: 

Alex Somers - Looking After / Alex Somers - Never Ending / Hammock - We Watched You Disappear




sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Dos relacionamentos que não nos advertem

    Não por maldade. É simplesmente pelo fato de que há tanto para se refletir e aprender com a vida que se torna difícil advertir sobre todas as coisas. Soma-se ao fato de que não há somente uma verdade que nos auxilie a lidar com a experiência do viver, mas sim uma dentre várias perspectivas, que a tarefa de repassar tudo sempre será incompleta.


    Logo, do que vivenciei (pois aqui escrevo apenas no passar do meu viver), vos digo: namorar algumas pessoas é descobrir o quanto essas pessoas não nos cabem. O ponto é que não sabemos disso e precisamos pagar para ver.

    Ficamos anos agarrados à esperança de que elas irão, de alguma forma, realmente compreender as nossas necessidades, de que vão parar de nos machucar com as pequenas coisas que tanto já falamos, e que vão melhorar em seus aspectos mais difíceis de lidar.

    "Uma só vez mais", "Talvez se eu tentar de uma outra maneira", "Agora que isso aconteceu tudo realmente vai se ajustar", e tantas outras justificativas criamos para permanecer ao lado de quem queremos amar. Reforço "queremos", pois amar é uma escolha deliberada e consciente (mas essa perspectiva eu deixo à mercê do vosso aprendizado com a vida).

    Diante de todas essas tentativas de fazer funcionar, e que, infelizmente, mas previsivelmente, não nos trouxeram retorno minimamente satisfatório, começamos a cair no limbo da dúvida e dessa dúvida tudo se torna alvo (e é geralmente no que mais nos falha).

    Aprendi que com a devida distância, que só o tempo proporciona, de algumas relações já finalizadas é nesse limbo da dúvida que surge a oportunidade de melhorarmos como pessoas. Nos martelamos demais dentro desses relacionamentos, e por tanto nos martelarmos ficamos completamente expostos. De fato, desconfio que só assim somos capazes de amadurecer: quando não temos mais a casca dura de algumas vagas verdades que vestimos para evitar o sofrimento de alguns traumas passados.

    A vida tem disso, sabe? Quando não é o acaso que desafia nossas estruturas, somos nós que, inexplicavelmente, nos colocamos nos caminhos que irão nos enfraquecer nos pontos onde mais precisamos.

    Mas não sabemos disso, ainda. Não temos essa perspectiva porque ainda estávamos presos naquele ciclo. Ainda não tínhamos nos descascado o suficiente para nos depararmos com as nossas próprias falhas, e só aquele relacionamento/núcleo (não pessoa, pois nunca é sobre o outro) seria capaz de fazer isso conosco.



- Carlos R.

*** Originalmente escrito em meados de Agosto e 2023. Somente publicado aqui na data que se segue da postagem.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Dança

 Não encaixava em mim. Não sou da fé, mas minha necessidade tão humana fez-me criar a própria religião. Sou resultado da miséria que aflinge a experiência da vida. Ser humano é estar em aflição.

    Meu ontem sempre acreditou que a sua projeção futura seria um ser cheio de luz e passional. Alguém que abarcaria a própria dor passada com paciência e sabedoria. A persona que veio a surgir de um anseio, de uma necessidade por acalento em toda a dificuldade e dor que o eu presente estava sentindo. O meu eu de amanhã precisava estar melhor e mais resolvido que o meu eu presente... Não só precisava, mas que também tivesse misericórdia por mim e por todas as minhas tentativas falhas e decisões imaturas. 

    Parcialmente correto... Tenho, sim, as qualidades que antes necessitava, e muitas das questões que rondavam a minha vida naquela época já receberam suas devidas respostas, mas isto não isentou-me de perceber e viver novas perspectivas que colocassem. mais uma vez, em ponto crítico outros cernes que já havia estabelecido como estáveis. Ainda falta-me luz, e vejo que ainda me faltará.

    Hoje olho para o meu passado com compreensão e empatia, mas percebo que este meu passado esqueceu-se de algo: que o caos, a dúvida e a inconstância sempre estariam presentes em sua vida. Vejo-me sendo boa parte da imagem viva que um dia ansiei, mas carrego em meu coração tantas dúvidas quanto antes.

    Abraço, relembro e ofereço toda a empatia para aquele eu que, com um olhar marejado, tanto suplicava por um acalento que diminuísse um pouco a sua ânsia, que necessitava de um pouco de amor. Conduzo minha perspectiva desse meu eu passado nessa dança por vezes calma e serena, mas o faço buscando o conforto do amor que ainda preciso. Danço com este jovem que ainda não sabe que também preciso de ajuda. Danço com a persona que na sua inocência não percebe que este que vos fala é tão humano quanto ele.

    Mas não repetirei essa mesma ingenuidade, pois hoje sei que o meu amanhã também estará olhando para o exato eu de hoje com a mesma, e constante em vida, melancolia não anunciada. 

   Sempre estarei precisando me resgatar.


- Carlos R.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Cartas

    Definitivamente, esse foi o ano mais solitário que vivi. Não que não tenha tido algumas companhias, pelo contrário, conheci individualmente pessoas que me trouxeram momentos maravilhosos, me reconectei com algumas amizades tão importantes e tive o apoio de quem me ama e, inexplicavelmente, me compreende.


 *Originalmente escrito e postado em 29/09/2018

"You don't have to be a ghost | Here amongst the living | You are flesh and blood
And you deserve to be loved"



    A questão é que esse foi o ano em que descobri que a gente ta mesmo sozinho no mundo. Que cada um está preso no próprio universo e que por mais que tentemos nos fazer entender somente nós mesmos é que somos capazes de lidar com o que se passa dentro da gente. Que as pessoas que nos amam não nos entendem completamente e nem serão capazes, mas somente compreendem; imaginam as melhores possibilidades para sermos quem somos e continuam cultivando uma fé, por vezes inabalável, na gente porque reconhecem o nosso melhor lado, mesmo que este nem sempre esteja tão óbvio e evidente.
Para quem ainda acredita no contrário isso pode parecer algo triste a se pensar, mas não é. Quando a solidão se torna solitude o amor de fora vem a ser uma dádiva rara que merece devida atenção.

    Começo o ano isolado; privado; me bastando; satisfeito com a própria companhia. Ciente de que o amor está aí (sempre está) para nos apoiar nas horas mais difíceis e tornar a caminhada um pouco menos árdua.

    Mas não vim aqui para falar do que aprendi e desaprendi esse ano.  Vim ser amoroso comigo. Vim ser Carlos para alguns momentos do meu Eu. Vim ser Eu para o Carlos. E vim ser ambos para ambos.


De: Carlos
Para: Eu em 21.12.12

    Para o menino que se encontra tão pensativo e melancólico debaixo do chuveiro nesse momento: mal sabes tu que tua vida vai começar nessa decisão que te parece tão difícil e incerta.
    Admiro a tua ingenuidade, pois não tens ideia da revolução que haverá nesse próximo passo. Sei que tu olhas para este achando que é só mais um passo, tão rotineiro como qualquer outro que já efetivou, mas só saberás da grandiosidade desse momento quando o fizeres.
    Essa é a graça de sair da zona de conforto: ansiar por não saber o que vai acontecer, ao mesmo tempo em que apreciamos a incerteza das decisões que tomamos um dia.

    Menino, se joga! Vai ser uma aventura inesquecível!


De: Carlos
Para: Eu em 10.03.14

    É irreal, mas é exatamente isso que está acontecendo, e você vai demorar um tempo para realmente sentir isso.
    Algumas valiosas verdades da vida tu vais aprender, mas este não é o momento certo para se pensar sobre isso.

    Vai doer. Bastante. E sei o quanto você precisará de um abraço. 
    Hoje eu existo e estou aqui, mas sei que você sempre será uma parte de mim congelada no tempo. Imutável.

    Quando estiveres ciente, dá uma olhada na tua estante. Lá mora um pequeno príncipe. Decerto que as palavras dele te ajudarão agora



"Cause your pain is a tribute | The only thing you let hold you | Wear it now like a mantle
Always there to remind you"




De: Carlos
Para: Eu em 03.03.18

    Estás para iniciar uma grande odisseia. Podes não perceber agora, mas essa foi a escolha mais característica do Artur que conheço: ter a coragem de ouvir o que fala o coração. Estás a fazer o certo, só não sabes ainda, e tua decisão fará tanto sentido quanto possa imaginar

    Cometerás vários erros enquanto tenta voltar a si, mas não te preocupes, são somente as tentativas mais honestas do teu ser. Estavas destruído por demais para se reencontrar sem cometer erros. Tu sabes que te compreendo e que perdoo tuas falhas, e também sabes que admiro a coragem que carrega no peito de fazer errado.
    Por todo esse longo inverno carrego um grande orgulho por ti. Além de ser grato por sempre manter a fé em m(si)im.

    Amorte dos nossos sonhos serão sempre trágicas, mas a desilusão é o preço que pagamos para aprendermos a viver. 
    Perdemos sonhos tão doces para ganharmos uma gama vasta de sabedorias, e não será diferente desta vez: o desgaste e o desamor te abrirão os olhos e te farão reconhecer quanto amor ainda há no mundo, e que reconhecer o amor do mundo nada mais é do que ter a noção de quanto amor carregamos no peito.
Só tenha um pouco de paciência. A vida clama por isso.


De: Eu
Para: Carlos

    O futuro é um mistério, mas, sendo Eu, sei que tu estarás lá em algum lugar que não conheço e em um tempo que não faço ideia, a escrever cartas tão amorosas a quem hoje sou e a quem ontem fui.
Carlos, da mesma forma que tu não existirias se eu não tivesse tentado, eu não teria conseguido se não permitisse existir a tua possibilidade. Tu és a fé que faltava em mim.
    Não ponho a expectativa da felicidade em ti, é mais uma responsabilidade minha do que tua, mas, por favor, não se esquece: tu sempre poderás ser feliz agora.
    Sei que tu viverás tempos difíceis, afinal, a vida é cheia de altos e baixos, mas saibas que o Eu de ontem e hoje também estão na torcida. O amor por si não é unilateral, tu sabes que existem alguns Eu's do teu passado, e este que aqui lhe fala, que tanto acreditam em ti.
    Também sei que teu abraço estará só a um tempo indefinido de distância. De antemão, um caloroso abraço para o Carlos que um dia ler isso e necessitar de um pouco de amor.
    Por fim, sei que tu és a pessoa mais leal a mim e que terei o prazer de um dia conhec(s)er.

    A máxima continua a mesma:
    Vai, Carlos! Entrega-te! Sem medos ou receios. Garanto-lhe que um dia não se arrependerás.



"I'm the same, I'm the same
I'm trying to change"



De: Hoje
Para: Hoje

    Sei que aí dentro mora um coração ainda desapontado e desacreditado, mas faz um esforço e vê a melhor parte: ainda há tanto amor em ti.
    Sei também que ainda há algumas estruturas em reforma, mas atenta-te também ao que já fizestes: estás melhor do que ontem.

    Há um tempo atrás te diria para ser feliz com o que tu tens agora. Hoje te vejo e já nem mesmo preciso dizer-te isso. Encontrastes tua paz.
    A felicidade nem sempre é o estado que estaremos, mas não há nada melhor do que encontrar o equilíbrio entre o que está, mais ou menos, ok.

Estás em um momento em que um dia sentirás falta, então hoje te digo: deleita-te dessa dádiva.
Admira o amor que hoje há no teu peito.
Ama quem hoje te faz sentir-se amado. 
E aproveita dessas companhias enquanto ainda há tempo.
Olha para o espelho e fica feliz por ainda ser jovem e ter tanto a se viver e sonhar.
Aproveita, pelo menos um pouco, da ingenuidade que ainda lhe resta.
Te felicita pelas circunstâncias que te permitiram florescer uma vez mais. 
Pelas oportunidades de se moldar diferente. 
Das mudanças que amadurecem.
Te orgulha por se permitir ser, mesmo nas piores partes de si.
E sinta-se grato por sentir. Por sentir toda a variedade de emoções que te fazem ser humano.

Meu bem, é Ano Novo. 
Recomeça.

Eu por Carlos
Eu por Eu

A minha última carta a você

    O tom de rosa durou por um bom tempo, mas o que se seguiu não foi tão belo quanto as cores anteriores.


*Escrito originalmente em 15/09/2018

    Recordo-me um pouco do vermelho, mas dessa vez em tom bem mais escuro causado pela sangria não notada. O Amarelo despediu-se à vista. O Verde já não tinha mais vida... e assim foi com o resto das outras nossas cores que foram murchando e murchando até tudo se juntar e não haver mais o que se distinguir. Sem visão e sem rumo nos perdemos.

    Qualquer cor que quiséssemos inserir ali logo se desfaria... Foi um caos.

    Sem mais o teu apoio tive que pacientemente organizar minha palheta de cores. Posso te afirmar que foi um processo árduo e doloroso.

    E quando já via o resultado do meu esforço (vendo todo o caos de cores tomar forma e distinção) percebia que aos poucos tua presença esvaía-se cada vez mais, e por pouco quase deixo o caos invadir novamente o quadro, mas continuei centrado no que tinha em mãos.


"Drifting through the halls with the sunrise | Climbing up the walls for that flashing light
(I can never let go)
Cause I'm gonna be free and I'm gonna be fine |Cause I'm gonna be free and I'm gonna be fine
(Maybe not tonight)"


    No final disso, quando a ordem estava estabelecida, vi um branco tão límpido que cegava, mas em todo esse branco só havia a minha presença. Nada além de solidão.

    Ainda não estava pronto...

    Então deixei que o branco entardecesse. Vi esse entardecer quarenta e quatro vezes. Permiti que fosse assim até que o branco se tornasse solitude... E se tornou.

    Ainda não tenho cores vívidas para pôr em meu mais novo quadro branco. As cores que hoje tenho ainda estão pálidas e claras de ainda tão recentes, mas elas me permitem sentir paz ao ver o que um dia fiz ao teu lado. Por agora, o azul-bebê tem sido minha preferida.


"Too fast for freedom | Sometimes it all falls down | These chains never leave me
I keep dragging them around"


    Desbravarei esse novo quadro. Com medos e receios, mas acredito que os tons de lilás me ajudarão nisso, assim como o amarelo me motivará mais uma vez.

    E todas as minhas outras cores um dia ficarão tão vívidas quanto já foram um dia, e acredito e espero que as suas também. 



- Carlos R

domingo, 29 de abril de 2018

Tons de Rosa



"And oh my love remind me, what was it that i said? I can't help but pull the earth around me, to make my bed..."


"Hoje encontrei uma carta. Uma bela carta, por sinal. Nela haviam palavras carinhosas, açucaradas com uma doce utopia de um relacionamento bem degustado. Digo utopia, pois, por até engraçado que seja, o autor ainda não tinha vivenciado tudo o que ele afirmara vivenciar, como se fosse algo previsto ou mesmo uma bela esperança para o seu relacionamento tão recente.
Ingenuidade ou não foi algo belo de se ler. O que a paixão é capaz de fazer conosco, não é mesmo? Se as pessoas vissem a paixão com uma lente mais adaptada ao termo talvez não fosse tão difícil encontrar alguns frascos cheios de paixão. Não que seja algo necessariamente raro, mas existe um grande receio de se adocicar a vida com algumas gotas dele.
Infelizmente devo dizer que a carta estava incompleta. Não por maldade do autor, mas sim por ele mesmo desconhecer a dádiva de um relacionamento. Ouvi dizer que A Vida ainda não o tinha presenteado com algo do tipo, talvez por isso tenha tido a impressão de que faltava algo para completar aquela bela carta. Apesar do autor afirmar ter vivenciado todo o relacionamento ainda não acho que ele conseguira colocar tudo o que acontecera conosco naquelas palavras. Foi muito mais do que eu esperava e do que com certeza ele esperaria.



"And oh my love remind me, what was it that i did? Did i drink too much?..."


Começou com um vermelho vívido, salpicado com alguns tons do verde tão jovial e esperançoso. Durante foi temperado também com um amarelo enérgico, que se misturou com o vermelho para vivenciarmos um alaranjado. Por um tempo, quando essas cores se esgotaram, assumimos o tom neutro do cinza. Por fim, deleito-me em vários tons de rosa.
Vez ou outra pintamos e repetimos algumas cores dessa aquarela, mas acredito que o rosa venha a permanecer por mais um tempinho conosco. Mesmo assim, uma aquarela de cores não consegue resumir o que vivenciamos em um ano juntos.
Aquele autor pelo menos em parte acertou. Vivemos de beijos calorosos e desentendimentos, acumulamos boas e más lembranças e nossos sentimentos se findaram. Você mudou e eu mudei. Você me mudou e eu te mudei. Nos tornamos um pouco um do outro, algo natural de qualquer bom relacionamento, e ainda digo mais: sua presença tornou-se uma necessidade para mim. É difícil me imaginar longe de você.
Para alguém que não acredita na permanência das coisas da vida essa necessidade é algo grandioso, e talvez algo até inimaginável para aquele ingênuo autor. Eu não sei o que é saborear certos momentos da vida sem ter você ao meu lado, afinal, o que me importa hoje é dividir essas experiências com você. Saiba que a vida fica um pouco mais bela com você ao meu lado/ela ganha um pouco mais de cor e sabor. Não tão saturada, mas a um pouco do nível de uma beleza utópica, algo que não era para ser real, mas que se tornou algo palpável para mim.



"Am i losing touch?..."


Os tons de rosa do nosso relacionamento não me permitem arriscar a escrever aqui o que vai ser o nosso relacionamento daqui para frente/não me permitem a ingenuidade do meu eu de um ano atrás. Não que eu não goste mais da cor verde, mas é por somente eu ter aprendido com você que relacionamento mais se constrói do que se idealiza. O máximo que me permito a dizer, e a única certeza que tenho, é que daqui para frente nós vamos nos mudar mais e mais, e eu, mais uma vez, me permito a isso com você.
Posso te dizer hoje que sim construímos uma bela história para contar. E eu não tenho palavras para expressar o quão feliz e grato estou com isso.

Obrigado por me ter feito tão feliz durante esse ano.
Obrigado por estar fazendo parte da minha história
E somente obrigado!

Amo-te!

Ce- Fortaleza, 19 de Março de 2017."


"Did i build this ship to wreck?"

- Carlos R.
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segunda-feira, 23 de abril de 2018

Por um momento, eterno



Carta escrita em 19.03.2016. Dedicada ao primeiro mês de namoro. Especificamente, na época, me colocando em um ano após meu primeiro mês de relacionamento.



"I was on a heavy tip / Trying to cross a canyon with a broken limb / You were on the other side, like always
Wondering what to do with life..."


"Amado A,

pelo que bem me lembro, deves estar em casa no exato momento em que lê esta breve e simples carta. Talvez um pouco tonto pelo café tomado neste dia (ou naquele dia, para o meu caso) tão especial e que fora tão maravilhoso para nós. 
Não se preocupe. Uma boa noite de sono melhorará o seu estado, mas antes deixe-me tomar um pouco do seu tempo. Quero lhe confessar algumas coisas que por vezes esqueci-me de falar, além das coisas que nunca cansei de repetir para você em todo esse tempo em que ficamos juntos.

Devo avisar de antemão que não sou o mesmo namorado que você conhece e está a conhecer no seu tempo atual. Mudei. Mudei muito durante o tempo em que convivi com você. Aliás, as vezes ainda me impressiono em como a convivência com você me mudou, em como conseguistes colocar um pouco de você em mim. 
Não que isso seja algo inesperado ou indesejado, mas apenas uma pequena forma da vida de mostrar o quão grande é a influência em nós mesmos de alguém que gostamos tanto. 
Nesses casos, é natural que nos tornemos um pouco do outro e vice-versa.

O que me impressiona é justamente o fato de isso ter acontecido com você. Sim, você!
Não me interprete mal, por favor, mas é que passei a acreditar por um bom tempo que apenas as minhas grandes amizades seriam capazes de fazer isso em mim. Não conseguia acreditar que a vida ofereceria a mim essa naturalidade da convivência como dádiva de um namoro bem sucedido. Nunca achei que poderia me sentir tão bem ao lado de uma pessoa que vai muito além da "simples" palavra "amigo".

Hoje posso dizer que, sim, uma parte de você está em mim.


"... I'd already had a sip / So i'd reasoned i was drunk enough to deal with it / You were on the other side, like always
You could never make your mind..."


Não vou narrar aqui todos os acontecimentos do nosso namoro que levaram a essa maravilhosa conclusão. Não quero e não vou estragar a surpresa, mas, não se preocupe, nós vamos viver estes acontecimentos.
Entre beijos calorosos até aos desentendimentos. Das festas aos "porres". Das boas às más lembranças. Em fim, dos melhores momentos deliciados aos mais difíceis aturados, ou seja, entre tudo o que um bom relacionamento tem a oferecer nossos sentimentos se findaram.

Só peço que, nesse nosso caminhar, não desistas, pois em nenhum momento eu desisti de você.

Sei que, agora, podes não vir a entender o que estou a dizer, ou que as minhas palavras não venham a ter tanto sentido, afinal, no seu tempo atual estamos apenas no nosso primeiro mês, mas acredite em mim, e tenha um pouco de paciência: um dia entenderás e se maravilharás assim como eu ao olhar hoje e todos os dias para você.

Estou contente. 
Estou mais do que contente: estou feliz ao seu lado.
Estou feliz pelo que vivemos, e espero que, mesmo depois de um ano, isso aqui dure por mais um bom tempo.

Um beijo do CR!!
Ce - Fortaleza, 19 de Março de 2017."

"... And with one kiss / You inspired a fire of devotion / Tha lasts for twenty years
What kind of man loves like this?"

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